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nas nuvens

o blog da Catarina

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O poema

21.03.21

O poema me levará no tempo

Quando eu já não for eu

E passarei sozinha

Entre as mãos de quem lê

 

O poema alguém o dirá

Às searas

 

Sua passagem se confundirá

Com o rumor do mar com o passar do vento

 

O poema habitará

O espaço mais concreto e mais atento

 

No ar claro nas tardes transparentes

Suas sílabas redondas

 

(Ó antigas ó longas

Eternas tardes lisas)

 

Mesmo que eu morra o poema encontrará

Uma praia onde quebrar as suas ondas

 

E entre quatro paredes densas

De funda e devorada solidão

Alguém seu próprio ser confundirá

Com o poema no tempo


Sophia de Mello Breyner Andresen 

Um retângulo onde a vida acontece

16.03.21

Das janelas de minha casa vejo um pedaço de terra de ninguém, preso entre quatro paredes de prédios independentes. É literalmente um retângulo, um bocado de terra ladeado de muros com toda uma mistura de coisas verdes e desorganizadas: erva daninha, umas couves ali e acolá, um pessegueiro despido, uns arbustos confusos e, no geral, um monte de vegetação anónima.